sexta-feira, 14 de dezembro de 2012


Novas reflexões críticas  sobre nossa organização sociopolítica contemporânea

Jefferson Batista Viscardi1


Resumo: Considerando o percurso total de nossa organização sociopolítica contemporânea a nível planetário, o presente trabalho explora através de reflexões críticas, possibilidades condizentes com as conquistas humanas no campo científico, tecnológico e intelectual. Embora à base de nosso artigo estejam as descobertas e preocupações socioculturais, de design: industriais e econômicos de dois engenheiros sociais: Jacque Fresco e Buckminster Fuller, respectivamente elucidativos, extraímos de A República de Platão importantes direcionamentos. Trata-se de compreender as visões “alternativas” e sustentáveis de uma sociedade saudável, apresentando um cenário onde pela tecnologia sanaremos nossas necessidades básicas (e avançadas); reverteremos a destruição acelerada do meio ambiente e por consequência encontraremos na solidariedade a paz e a prosperidade em nossas relações que a ética de imposição de vontade não pode fornecer-nos. Este artigo tem como propósito elucidar o leitor acerca da carência de processos lúcidos que evidenciem e, a uma só vez, explorem o potencial humano apontando para a existência de falhas graves e alternativas que, mais que importantes, são essenciais para sua subsistência, a longo prazo, em harmonia com o meio em que vive. Explora novas reflexões críticas sobre nossa organização sociopolítica contemporânea que com novas e prementes exigências não suportará servir o novo homem e sua nova ética de relacionamento interpessoal e ambiental com estruturas ultrapassadas e ineficazes.
                          


Palavras-chave: filosofia política, engenharia social, sistemas econômicos alternativos, sociedade baseada em recursos, Jacque Fresco, Buckminster Fuller, Platão, sustentabilidade planetária, redirecionamento sociocultural.





O ciclo do consumo que orienta o triângulo empregado, empregador e oferta e procura (na sua base), exige a manutenção da obsolescência planejada para continuar a existir. Em poucas palavras, obsolescência planejada é o termo que se refere à existência de uma atitude empresarial generalizada voltada para produção de bens com qualidade inferior a habilidade humana e sua capacidade material e tecnológica. O objetivo desta prática, gera um volume de vendas duradouro reduzindo o tempo entre compras sucessivas. Conforme nos informa Packard (2011, p. 187), são três formas de se promover obsolescência: por função, durabilidade e desejabilidade. A primeira forma, a obsolescência funcional, não é prejudicial, mas sim muito bem vinda. Ocorre quando um produto é substituído por um novo modelo que tenha desempenho superior, incentivando assim a inovação. Já a obsolescência por durabilidade é firmemente criticada por Packard. Neste caso os fabricantes, intencionalmente, reduzem a vida útil de seus produtos para aquecer o mercado de peças de reposição ou mesmo para que sejam substituídos ainda mais rápido. Na obsolescência por desejabilidade, abusa-se da moda para induzir o consumidor a substituir um determinado objeto a cada nova troca de estilo, mesmo aqueles que estejam funcionando perfeitamente.
          Assim sendo, este modelo industrial de produção destrói o planeta e torna os humanos meras ferramentas, a humanidade converte-se em um meio e não o fim em si e é assim que melhor se interpretaria desde o início deste século.
         Suponhamos que a inteligência avance e a tecnologia substitua o trabalho ou que os produtos não estragassem tão facilmente, teríamos o cenário onde a "mão invisível" de Adam Smith, ficaria desocupada e o colapso da economia capitalista deixaria sua população desinformada em absoluto caos, porque com o avanço tecnológico o ciclo consumidor produção e consumo se estancaria e o desemprego tiraria o poder de compra que uma vez inibido resultaria na impossibilidade de produção e portanto ganho por parte do empregador. Por isso, a inteligência não pode avançar e nossas práticas devem suportar a estrutura de um sistema criado para uma civilização de um século atrás. O medo do próximo, do poder balístico governamental ou da escassez nos ensina ser passíveis a comportamentos que não condizem com princípios de soberania, igualdade ou fraternidade. Fazer menos do que somos capazes nos confere todo tipo de distúrbio mental, emocional e déficits em nossos relacionamentos.
      
            Segundo Mészáros (1995, p. 77):

            [...] o caráter crescentemente destrutivo da produção capitalista, a intensificação da obsolescência planejada, a cada vez mais intensa perdularidade do capital no trato dos recursos naturais e sociais se chocam, de modo escandaloso, com o fato de sermos uma humanidade finita, que habita um planeta finito, com recursos finitos e com um equilíbrio ecológico cada vez mais ameaçado. É inconcebível que possamos, ad infinitum, desconsiderar os limites planetários e sociais à expansão da produção e do consumo e, por tabela e com urgência ainda maior, que possamos desconsiderar a perdularidade do atual modo de produção.

          O que se opunha a maiores divagações (hipotéticas que fossem) em estudos de nossos antepassados da filosofia política e das ciências econômicas eram as barreiras técnicas já que não haviam pontos de referência no cabedal científico que desse suporte à postulações mais desafiadoras como aquelas que são construídas por pessoas informadas. Como a evolução humana não dá saltos, foi necessário construir sobre as bases de cada tempo. Hoje temos a capacidade e o dever de empreender a mesma viagem, mas agora com a responsabilidade de pagar caro pelo descaso ou indiferença para com a urgência e importância da problemática em questão, ao ponto de sentir na pele o resultado de nossa passividade para com adversidades que nos tocam mais intimamente que qualquer passatempo interiorizado como importante pela cultura desorientada que nos corrompe fruto de práticas ultrapassadas.
          Para não nos aventurarmos nas águas da ontologia e da epistemologia e manter o foco no propósito que visamos empreender, o de buscar entender as razões porque o presente sistema e seus imensos desperdícios não podem mais servir ao próximo passo, ao próximo capítulo do desenvolvimento moral e intelectual da humanidade, é preciso concordarmos que o planejamento e a capacidade de decidir agir em conformidade ou não com a natureza e seus imperativos sempre nos separou em consciência com as outras formas de vida "menos privilegiadas". O que fizemos até hoje com nossa habilidade de prever o final de uma viagem de tamanha proporção como é essa da raça humana a caminho de sua possível destruição espetacular, foi achar que separados sempre estivemos melhores que mal acompanhados.
          Assim, não foi preocupação tratar nossos chagas por achar que a doença é sempre do outro e que o que vem de baixo não atinge. Na condição de tripulantes de uma só embarcação é ilógico tal comportamento. Somos portanto um só organismo, o coletivo humano que somente subsistirá se assimilar o conceito de unidade a nos conjugar a vida desde o berço..
            Porque a nossa iniciativa espontânea foi frustrada, muitas vezes inadvertidamente, em tenra idade, não temos a tendência, normalmente, a se atrever a pensar de forma competente a respeito de nossos potenciais. Achamos socialmente mais fácil ir com a nossa estreita, míope especialização e deixar aos outros - principalmente para os políticos - a responsabilidade de encontrar alguma maneira de resolver nossos dilemas comuns. (FULLER, 2008, p. 1) [tradução: Jefferson Viscardi].

          A razão de ser assim é explicada de várias maneiras também por Jacque Fresco, mas uma coisa é tida como certa: “há uma ordem a qual não podemos resistir que com o tempo toma tudo o que dá”, como já dizia Giordano (BRUNO 2006). Em comum, temos a condição de pertencermos a um processo da natureza que se desdobra seguindo leis perfeitas a manter a velocidade e distância entre os astros celestes, assim como traçar os limites aos abusos descomunais terrestres. Sem entrar em mérito sobre o motor imóvel, a ciência nos avisa que um impulso natural nos move e anima e a razão confirma: crescer moral e intelectualmente multiplicando o conhecimento, a sabedoria como propósito de nos emanciparmos já era algo que preocupava nossos filósofos no século XVI e há centenas de anos antes de Cristo.
          O mais natural em nossos dias seria admitir que o que realmente precisamos é conhecer a nós mesmos. Isso nos livraria de muitos contratempos improdutivos que nos aprisiona em dramas de controle que expressamos inadvertidamente na tentativa de encontrar um lugar que nos seja cabível neste mundo sem nos distanciarmos muito daquilo que é praxe, que é senso comum, que é observado como norma do bom cidadão que se presa; que é o verniz externo a nos engomar o ego nos absurdos que somos condicionados a anuir, condescender.
          Em nossas interações, a palavra "precisar" tornou-se sinônimo de um desejo superficial induzido por costumes e crenças tão irresponsáveis quanto obsoletas e irrelevantes para o bem-estar individual e sobretudo social. Serve de lenha, no entanto, para manter a máquina do consumismo atravessando os sertões do amadurecimento e excluindo a chance de uma visão saudável, a todo vapor. Vejamos um exemplo: aprendemos já no ensino médio e superior que o homem é guloso por natureza. Isso no curso mesmo de economia de muitas universidades. Primeiro ele tenta satisfazer suas necessidades básicas: alimentação, vestuário, moradia... Depois, passa a desejar outras coisas: um carro, uma casa maior, uma viagem de férias... ou seja, adotando o discernimento materialista e desinformado, na prática, ele nunca está satisfeito pois aprendeu a buscar a felicidade onde esta fisicamente não se encontra.
          O problema social é assim, fácil de identificar. Como não há recursos para tanta gente com "necessidades" ilimitadas surge a teoria da escassez considerando a restrição de recursos disponíveis. Como os recursos são limitados, nem todas as "necessidades" poderão ser atendidas. Daí a existência de um estudo (economia) onde a "sociedade decide" o que produzir, como produzir e para quem produzir.
          Como o propósito de todo organismo vivo é continuar existindo, ao invertermos os valores e atribuir à falta de recursos esta nossa luta e labuta pelo escasso, jamais viveremos em paz ou em segurança, para nos ocupar com afazeres mais sublimes. Precisamos aprender que o coração sem o rim não vive, não interessa o grau de importância de cada órgão. Precisamos entender que a falta de recursos não nos exige o comportamento selvagem para subsistir mas a cooperação para multiplicar nossa habilidade de servir a todos satisfatoriamente.
          Se temos tudo o que precisamos para prover o básico a subsistência da vida humana e uma educação relevante que contemple a capacidade individual de todos nós, devemos compreender e informar a todos sobre este potencial em ato (possibilidade já realizada) para que a orientação deixe de ser infantil (quero mais) para ser madura (ajudo mais). O que nos cabe compreender primeiramente no entanto, é que a mudança que precisamos é mais importante que acreditamos ser e que cada individuo tem sua parte a desenvolver seja na elucidação pessoal ou no exemplo que se deve dar de que, apenas atrasamos o nosso progresso enquanto agimos separados e ignorantes de nosso verdadeiro potencial. Cabe compreender que toda ação desinformada tem um preço: o aprendizado com os contrastes que a vida nos apresenta. É nosso interesse ser a mudança, entender nosso papel e regenerar o planeta elevando nossas práticas ao nível de nossa habilidade presente de respeitar a vida, a natureza e seus processos providenciais.
  
O paradoxo social de uma visão ultrapassada

          Para muitos a resposta para com a disparidade de nossos meios de produção e métodos de aplicação do conhecimento quando contrastados com nossa real capacidade, se encontra no mecanismo de regulação onde governo e mercado interagem juntos na busca da solução dos problemas econômicos. Conforme a oferta e a procura os preços sobem ou descem seguindo uma ética mercadológica na esperança infantil de encontrar nisso um equilíbrio que justifique o conhecimento humano atual. Não há problema que se resolva sem a antecedente habilidade de identificá-lo; é preciso conhecer o que queremos erradicar. Pois bem, a resposta não pode recair sobre políticos ou nobres pois isso acarreta o abuso do poder e tampouco deve ser fruto de democracia pois isso gera mediocridade.
          Não pretendo, na brevidade de minhas palavras, ser conclusivo quanto a solução mas se confrontarmos honestamente nossas possibilidades e ferramentas úteis de nossa época, a lógica e a razão nos responderão. Não faz sentido deixar as decisões cabíveis à ciência nas mãos de políticos ou meia dúzia de cientistas patrocinados para investir o conhecimento e intelecto na criação de mais problemas pelo lucro ambicioso por trás de tais engajamentos. Se o ambiente em que nascemos e no qual crescemos formata nossos desejos e nos enche de angústias que anseiam em ser eliminadas através do consumo motivado por "necessidades ilimitadas", estaríamos fadados a destruir o planeta mais cedo ou mais tarde.
          Assim a resposta pode estar na abundância que mudaria nossos medos e incertezas, educando a atenção para nossa necessidade verdadeira de progresso pessoal e social trazendo-o para a frente da fila de nossas prioridades. Isso por sua vez, seria possível com a eficiência tecnológica a favor da consciência humana.

          [...] devemos ousar imediatamente para voar pelos princípios generalizados que regem o universo e não por regras pre-estabelecidas dos reflexos supersticiosos e erroneamente condicionados de ontem. E quando tentamos pensar competentemente,  nós imediatamente começamos a voltar a empregar o nosso impulso inato para abrangente compreensão. (FULLER. 2008, p. 18) [tradução Jefferson Viscardi].

          Por sermos um organismo interdependente, o prejuízo de um afeta os demais e daí a estarmos cumprindo com o dever ao servirmos ao próximo na pessoa de quem seja. Vivemos em regime de suportabilidade. Detestamos as surpresas desagradáveis que surgem como resultado de decisões desinformadas da parte de quem tem o poder e as que surgem da atitude desinteressada da parte de quem supostamente dá o poder. A necessidade de sobrevivência em um ambiente dinamizado por condicionamentos voltados ao consumismo e a manutenção do status quo, torna o intelecto passível de atrofiar-se perdido em se proteger e buscar o prazer celebrando a ignorante habilidade de subsistir com migalhas que não fazem jus ao seu potencial.
          Há uma passagem no Livro III de A República de Platão (Tradução: Enrico Corvisieri, 1997, p. 111), onde no diálogo de seus personagens: Sócrates e Glauco, encontramos uma ilustração cabível:

Sócrates — É o que vou explicar-te. A coisa mais terrível e vergonhosa que os pastores podem fazer é treinar, para os ajudarem a cuidar do rebanho, cães que a intemperança, a fome ou qualquer hábito vicioso levariam a fazer mal aos carneiros e a se tornarem iguais aos lobos dos quais os deveriam proteger.
Glauco — Nada mais terrível.
Sócrates — Não devemos tomar todos os cuidados possíveis para que os nossos auxiliares não se comportem deste modo com os cidadãos, dado que são mais fortes do que eles, e não se tomem iguais aos senhores selvagens, em vez de permanecerem aliados protetores e defensores?
Glauco — É essencial prevenir esses fatos.

          Pois bem! O dinheiro como recurso indireto sem lastro em ouro se tornou um instrumento simbólico e sem valor real. Quando sua fabricação ficou subjetiva às leis, as regras que o regulavam foram colocadas à prova e o sistema deu atestado de óbito para a república parlamentarista monetária, sonhada por quem idealizou o capitalismo baseando-se no livre comércio e o bem comum. A partir daquele evento a corrupção teve suas algemas afrouxadas e até hoje reina soberana as custas da ignorância geral. No país mais rico do mundo, por exemplo, o dinheiro é fabricado por uma empresa privada (uma gráfica encabeçada por supostos peritos em economia apontadas pelo presidente: "A Reserva Federal" ) que nunca precisou prestar contas de maneira absolutamente transparente do quanto e para quem imprimia notas de dinheiro válidas por verdadeiras.
          Ao passar das décadas, o mundo se viu endividado e o abismo entre ricos e pobres aumentou exponencialmente. Considerando estas variáveis, a palavra adquirir não é um verbo disponível para a contemporaneidade já que apenas emprestamos o que não tem valor e se quer necessitamos para nos ver endividados e comprometidos com a ignorância por ter que trabalhar sem cessar para satisfazer condicionamentos artificiais. Condicionamentos que não contribuem para nossa emancipação ou progresso social pois gera apenas desperdícios por estar formatado para servir apenas uma minoria.
          Assim se o dinheiro não é essencial para obtermos os recursos que necessitamos e como nossas necessidades reais se resumem em poucas, deveríamos ser capazes de organizarmo-nos diferentemente de forma a canalizar nosso conhecimento para sanar as redundâncias e inconsistências com a aplicação de tecnologia voltada para o desenvolvimento social e sustentabilidade ambiental.
          Como a sociedade é um resultado dependente da soma de seus indivíduos (e do meio que a cerca), para ser capaz de emergir, ela deve possuir mecanismos que tornem isso possível. Ou seja, ela deve ser capaz de satisfazer dinamicamente suas necessidades tangíveis e intangíveis respeitando o equilíbrio dinâmico imposto pela natureza. E sem entender que diariamente criamos mais e mais necessidades de satisfações artificiais que custam dinheiro que custa trabalho, vendemos todo nosso tempo e somos empregados na produção de produtos fadados ao desperdício, seja do intelecto, do tempo ou dos recursos materiais. No Livro IV de A República de Platão (Tradução: Enrico Corvisieri, 1997, p. 122) encontramos: 

Sócrates — E não é um traço engraçado deles o fato de considerarem seu pior inimigo aquele que lhes diz a verdade, isto é, que, enquanto não renunciarem a embriagar-se, a encher-se de comida, a entregar-se à libertinagem e à preguiça, nem remédios, nem cautérios, nem simpatias, nem amuletos, nem outras coisas do mesmo gênero lhes servirão de nada?
Adimanto — Na verdade, esse traço não me parece nada engraçado, dado que não existe graça em irritar-se contra quem dá bons conselhos.
Sócrates — Pelo que vejo, não és um admirador de tais homens.
Adimanto — Juro que não, por Zeus!

          Assim nos organizamos, educamos nossos filhos para serem servidores e não pensadores. Aprendem a exercer profissões mecânicas e não a solucionar problemas. Sequer sabemos ler, escrever ou contar dinheiro ao sairmos do ensino fundamental. Na faculdade nos especializamos e ao longo de sete anos nos tornamos super peritos em quase nada. Vivemos correndo para pagar contas e suprir compromissos que não condizem com nossa necessidade real de crescimento e solidariedade. A escassez nos torna individualidades animalizadas na corrida pelas migalhas de pão que caem da mesa de “nossos mestres” (paixões inferiores condicionadas). Vivemos acorrentados as satisfações superficiais dos sentidos e não nos damos conta.
          Por fim, deveríamos concluir que não nos organizamos, somos organizados a conformar e quando a educação alcança certas pessoas pelo seu esforço ridicularizamo-las. Aplaudimos apenas os zumbis que se arrastam como nós e os vampiros a nos sugar diariamente nos impostos e taxas mil. Política e economia são inter-relacionadas, uma sustenta a outra. Todos os indivíduos humanos são integrantes da mente e corpo social. Nesta perspectiva generalista as pessoas são compreendidas como células sociais de um organismo maior do que a soma de suas partes: a humanidade.
          O paradoxo de uma visão social ultrapassada reside justamente no fato de ser o povo que ignorante e cada dia mais condicionado o agende que deve salvar-se a si mesmo de um colapso que a cada dia lhe ameaça a tranquilidade fantasiada pelos meios de comunicação em massa que na sua maior parte serve a agenda de mais gente ignorante. Enquanto continuarmos agindo como se fosse natural existir perdedores enquanto rimos de suas derrotas ao invés de unirmo-nos na busca de soluções, seremos como o tirano injusto da república de Sócrates: aqueles que sofrem mais pois nosso caso é involuntariamente que nos fazemos vítimas de nossa cultura.
                    A prática da oferta e da procura criou uma aberração previsível como um furo no sistema capitalista que nos custa muito. Como aquilo que é escasso tem mais valor, não damos a devida atenção para o que existe em abundância e não há motivação para substituir determinado componente de um produto por outro que tornaria tudo tão barato ao ponto de não compensar fabricá-lo já que a prioridade nas relações comerciais é sempre o lucro. Muito progresso foi barrado desta forma assim como pesquisas descontinuadas pois a relevância ou o sucesso de determinado empreendimento científico não está em ser útil para humanidade mas lucrativo para quem investe sua fortuna a ânsia de criar mais. O erro não está em agir assim como indivíduo, mas em não buscar enquanto sociedade uma solução para que todas nossas atividades sejam voltadas para o benefício mutuo verdadeiro e "desinteressado".

Um grande somatório de problemas

          A vantagem de termos um corpo econômico é a de manter a harmonia nas trocas e relacionamentos, para que adaptados e protegidos possamos dar continuidade e evolução aos interesses que contemplem a família, a amizade, a saúde e o espírito. Não pode ser o propósito maior acumular cada vez mais enquanto outros se veem destituídos de possibilidades de viver dignamente por terem nascidos no outro lado da cidade.
          A ideia de corpo conjuga uma simbiose de funções individuais interligadas que cooperam para a subsistência do todo por sua adequada disciplina e foco no que importa e dá resultado. A divergência em pontos de vista jamais deveria impedir a ciência com o uso de seus métodos de confirmação e constatação de um fato como verdade, de falar em linguagem imparcial, direta e portanto não sujeito a interpretações que pudesse assumir a frente do progresso da humanidade. Porque somos menos que podemos graças aos condicionamentos a que nos expomos constantemente pela fraqueza de nossas aptidões intelectuais e morais, está claro que não nos importa o bem geral e assim o avanço, o progresso depende do interesse e o interesse é movido pela perspectiva de lucro. Ninguém melhor que Platão para ilustrar esse ponto com maestria:

Sócrates — Pode a injustiça ser outra coisa que não uma sublevação dos três elementos da alma, uma confusão, uma usurpação das suas respectivas tarefas, a revolta de uma parte contra o todo para conquistar uma autoridade à qual não tem direito, visto que a sua natureza a destina a obedecer àquela que foi gerada para governar? E daí, afirmamos nós, é dessa perturbação e dessa desordem que se origina a injustiça, a intemperança, a covardia, a ignorância, enfim, todos os vícios.
Glauco — Com toda a certeza.
(PLATÃO. A República. Livro IV, p. 145)
  
          Em resposta aos sintomas representados por nosso desequilíbrio social temos as seguintes observações a nos assombrar. São eles: Sistema monetário: parcial distribuição das riquezas; Educação: irrelevante, voltada para formar máquinas e não pensadores; Informação: direcionada ao consumismo e desgraças; Valores: invertidos dirigidos pela satisfação das inclinações animais; Saúde mental: comprometida pela superficialidade e ausência de propósito; Saúde física: comprometida pela autonegação necessária ao sucesso; Dinheiro: ferramenta de controle nas mãos de quem fabrica e seus amigos; Comunicação em massa: agentes de desinformação, formadores de opinião; Entretenimento (prazer): Razão de viver e trabalhar. Trabalho: atividade consumidora de tempo e cansativo; Ciência: ferramenta de imposição de poder e controle; Obsolescência Planejada Utilitária: se trata de recursos serem produzidos intencionalmente para quebrarem em pouco tempo. Incompatibilidade geral, matéria-prima de baixa qualidade e designes ineficientes são algumas características recorrentes; Obsolescência Planejada Psicológica: o uso de incentivos para a compra orientada pela novidade em si, sem relação direta com parâmetros utilitários. Publicidade e lançamentos periódicos de produtos com mudanças superficiais são algumas características também recorrentes. Consumismo e proliferações tecnicamente desnecessárias de recursos tangíveis são sintomas comuns; Automação: diminui empregados e aumenta miséria mundial.

          Em outras palavras, tudo assumindo a direção de nossa carruagem, exceto quem teria melhor condições de acerto e consistência pontual.

Sócrates — Muito bem! Não percebeste como são ridículas as opiniões que não se baseiam na ciência? As melhores são cegas. Vês alguma diferença entre cegos que seguem pelo caminho certo e aqueles que possuem uma opinião verdadeira a respeito de alguma coisa, mas sem ter a compreensão dessa mesma coisa?
Adimanto — Nenhuma.
(PLATÃO. A República. Livro VI, p. 215)

          Entre bárbaros ou civilizados, não é difícil qualificar uma raça que não toma conta se quer de seus próprios concidadãos. Enquanto houver guerras haverá vencedores por imposição de força que levou este ou aquele a criar inimigos que com o tempo (depois da derrota), se fortalecerão e revidarão na primeira oportunidade. A cooperação a nível global é algo que jamais testemunhamos e não podemos ter a pretensão de encontrá-la em uma sociedade tão doente que como os loucos acredita estar sã. Isso quer dizer que vivemos na sombra de nossa grande pequenez, ávidos de um mundo que não nos empenhamos em construir, lamentando os prazeres que não gozamos correndo atrás de maior bitolação. Perpetuamos com esse comportamento tão ignorante quanto ingênio e o uso dos recursos (economia) de modo exploratório, como se eles fossem infinitos nos aprisiona na corrida dos ratos (matar uma fome que declaramos imortal: mais satisfação que o dinheiro possa comprar).
          Toda vez que deixamos nossa baixeza nos representar – seja na pessoa dos políticos ou de nossas próprias limitações quando não somos disciplinados quando deveríamos –, somos mal posicionados pois tudo que é fruto de opinião que tem como objetivo o engrandecimento de um órgão específico do corpo ao invés do todo, falhamos em nossa missão de ver além dos condicionamentos que nos cegam sem perdoar.
         
Sócrates — E, evidentemente, a prudência nas deliberações é uma espécie de ciência; de fato, não é por ignorância, mas por ciência, que se delibera bem.
Glauco — Claro.
(PLATÃO. A República. Livro IV, p. 124)


          Estamos viciados no que não precisamos e buscamos dinheiro, iludidos que sairemos incólumes de tão grande ato de irresponsabilidade e hipocrisia para com as normas saudáveis de nosso próprio lar. É preciso um exame de consciência sóbrio voltado para uma solução que virá de cada indivíduo e culminará apenas quando a informação verdadeira alcançar a massa crítica da humanidade. Jamais deixaremos o estado de barbárie enquanto usarmos um sistema econômico obsoleto e contraproducente, baseado no valor da escassez, como nosso corpo social. Além de ser um atentado ao funcionamento dinamicamente equilibrado de nosso único planeta.

         Se o nosso sistema continuar sem modificação quanto a despreocupação ambiental e social, teremos de enfrentar um colapso econômico e social do nosso sistema monetário e político. Quando isso ocorrer, o governo provavelmente vai decretar estado de emergência ou lei marcial para impedir o caos total. Eu não defendo isso, mas sem o sofrimento de milhões de pessoas, pode ser quase impossível de abalar nossa complacência com nossas praticas atuais de vida. (FRESCO, 2002. pág.11).


O prognóstico

          Somente um médico de sistemas econômicos realmente versado no assunto poderá dizer quais as esperanças e por quanto tempo mais sobreviveremos um colapso em cadeia, um ataque do coração planetário se continuarmos brincando de ser adultos maduros e responsáveis. Se continuarmos “fumando” diariamente nossas oportunidades de entender o cenário presente e sugerir caminhos diferentes educando mais e mais gente, e buscando colaboração para uma visão que deve ser melhorada constantemente, viveremos um tsunami de descontentamento que nem o príncipe de Maquiavel poderá controlar na pessoa de seu príncipe. O coletivo da humanidade será o mais atingido já que é de sua indiferença que todas essas doenças se originaram. Talvez seja mesmo a opinião nossa maior doença. Achar que sabe e infantilmente viver debaixo de um teto desprovido de conhecimento matemático e bases sólidas que garantam o mínimo de segurança aos seus habitantes.

Sócrates — Afirmaremos, pois, que as pessoas que enxergam muitas coisas belas, mas não apreendem o próprio belo e não podem seguir aquele que gostaria de guiá-las nessa contemplação, que enxergam muitas coisas justas sem verem a própria justiça, e assim por diante, essas pessoas, diremos nós, opinam sobre tudo, mas não sabem nada a respeito das coisas sobre as quais opinam.
Glauco — Necessariamente.
(PLATÃO. A República. Livro V, p. 188)

         
          Assumir responsabilidade é o fator inicial para que possamos nos localizar e encontrar um meio de resolvermos o impasse que a todos acomete indistintamente. O Método científico, ao que tudo indica, pode ser a saída mais lógica para nossas controvérsias e distinções religiosas, filosóficas e políticas quando aplicado para o interesse social. Ora, isso permitira o raciocínio humano um ensaio mais profundo em sua exploração do desconhecido para quem sabe desvendar problemáticas que hoje pertencem ao campo da crença. Aqui o prognóstico: o método científico aplicado no interesse social. Através da curiosidade podemos abrir mão do que acreditamos saber ou aprofundarmo-nos mais no que interessa a todos. A experiência que nos direciona às evidências contrastadas com nosso conhecimento global sobre determinado assunto quando apurado pela tecnologia mais avançada nos iluminara o caminho para maiores descobertas. Ao partir de uma teoria passando pela observação considerando as ferramentas da lógica e da razão, praticaremos constantemente o ato de fazer ciência com a dignidade de utilizar do conhecimento a serviço de todos. Sistematizando os funcionamentos da natureza e compreendendo as leis que regem-na replicaremos a uma só vez, eficiência, beleza e sustentabilidade numa plataforma despojada de pretensões e interesses pessoais onde a caridade universal independente de credo ou discernimento beneficiará a todos.
          Em uma economia baseada em recursos, motivação e incentivo serão encorajados através do reconhecimento e preocupação com as necessidades dos indivíduos. Isso significa fornecer o ambiente, instalações educacionais, boa nutrição, cuidados de saúde, amor e segurança que as (necessidades reais das) pessoas exigem. (FRESCO, 2002. pág. 38). [Tradução Jefferson Viscardi].

           A tendência de tudo é evoluir e o progresso da humanidade não poderá ser detido por muito tempo para servir interesses desta ou daquela minoria pois não há como interromper o fluxo natural assim como é lei na natureza. Viver, comer e procriar não são mais as preocupações que ontem nos definiram e hoje nos condenam ao atraso. O impossível e o normal são apenas definições que se distinguem por um espaço de tempo que a cada século tende a diminuir consideravelmente. A perfeição existente nos domínios da natureza nos ensina a buscar o equilíbrio em seu seio fértil fazendo de nossa criatividade instrumento de respeito ao próximo com produções que representem a grandeza do dom de humanidade bem aplicado no serviço da caridade desinteressada. Amanhã, neste futuro que construirmos o mais pobre de hoje será mais bem colocado e instruído que o mais rico de nossos tempos. Este é o presente que a união nos oferecerá.
           O atual estado tecno-científico da humanidade não é utilizado ou sequer conhecido por todos pois, como mencionamos, vivemos em um regime de suportabilidade e tudo o que é criado deve permanecer em segredo para não ser copiado e possivelmente utilizado contra seu criador. Depois, o maior objetivo e temas desenvolvidos giraram em torno de armamentos de guerra e desunião. Energia é o recurso fundamental para dar movimento na transformação e desenvolvimento, seja em tecnologia, seja na própria natureza.
         Quando a educação e recursos estiverem disponíveis para todos, sem uma etiqueta de preço, não haverá limite para o potencial humano. Com estas alterações importantes, as pessoas vão viver vidas mais longas e saudáveis ​​mais significativas. A medida do sucesso será cumprir atividades individuais satisfatórias, em vez de adquirir riqueza, propriedade e poder. (FRESCO, 2002. p.41). [Tradução Jefferson Viscardi].

          Já temos capacidade de converter energia térmica do oceano através das mudanças das marés e movimentos das ondas, as pipas submarinas. Depois temos a inteligência da conversão através de painéis fotovoltaicos. Outra forma é substituir o asfalto em rodovias, ruas e estacionamentos pelas placas solares, protegidas por vidros blindados. Energia eólica. Já aprendemos a dessalinizar a água do mar (só falta interesse para investimento). O mesmo potencial para abundância e solução de problemas técnicos pode ser visto nos mais variados campos, como medicina, ecologia, robótica, segurança, higienização, etc. Ou seja, uma sociedade saudável usa máquinas para realizar trabalhos técnicos repetitivos, e não pessoas. Disso calcula-se que apesar de a ciência poder trazer um mundo mais justo e melhor para todos, o método científico será apenas bases renovadoras sobre as quais revisitar nossos problemas filosóficos sem o filtro da precariedade generalizada que podem nos estar tolhendo lucubrações mais elaboradas e reveladoras.
          Não estaria Platão correto quando inspirou seus leitores a construir uma sociedade onde cada qual faz conforme suas habilidades reconhecendo que é uma peça muito importante no mecanismo que mantém viva e saudável sua respectiva pátria, que aqui, no nosso caso, é o planeta todo? Diferente de suas limitações, não teríamos a necessidade de um guardião guerreiro. Apenas a filosofia, ou seja o amor pelo conhecimento aplicado de maneira justa e bondosa haverá de nos bastar quando decidirmos utilizar todo nosso cabedal de conhecimentos adquiridos em todos os campos da ciência para realmente sanar e prever nossos problemas de maneira responsável e interativa. Isso não me parece utopia mas talvez, a única saída coerente.

        Sócrates — Pois! Concordais agora que as nossas ideias concernentes ao Estado e à constituição não são simples utopias, que a sua realização é difícil, mas possível, de alguma maneira, e não de modo diferente do que foi dito? Que, quando os verdadeiros filósofos, quer vários, quer apenas um, tomados senhores de um Estado, desprezarem as honras que ora procuram, considerando-as indignas de um homem livre e desprovidas de todo valor, fizerem maior caso do dever e das honras, que são na verdade a sua recompensa e, considerando a justiça como o bem mais importante e mais necessário, servindo-a e trabalhando para a sua prosperidade, organizarão a sua cidade de acordo com as leis? (PLATÃO. A República. Livro VII, p. 253).

           Uma atividade voltada para o próprio bem é uma atividade voltada para o bem do próximo, pela sinergia que existe na troca de conhecimentos quando há ou não reciprocidade pois atividade colaborativa dirigida de forma informada e despretensiosa enobrece o ambiente a nossa volta que em troca nos enobrece a todos.
          Primeiro reconhecemos nossa doença mental, depois buscaríamos nos tratar abrindo canal de informação apenas com meios honestos de formação que respeitem e incentivem o pensamento independente e soluções que beneficiem todos de igual maneira. Depois em grupo de pessoas afins trabalharíamos no desenvolvimento e melhoramento de ideias que pudessem erradicar inconsistências originadas de vícios humanos concentrando-se apenas em erros e acertos de cálculos.

          Avançados sistemas sociais não necessitam de cientistas ou governos para dizer-lhes como operar. A autoridade para a tomada de decisão final representará a expressão de toda a humanidade. Essa visão de ciência aplicada pode servir o bem comum, um objetivo que iludiu a civilização humana há séculos. Embora esta revolução ainda está em grande parte, no futuro, a possibilidade de uma vida melhor para todos os habitantes do nosso planeta depende, em última análise, das escolhas que fazemos hoje. (FRESCO, 2002. p. 51). [Tradução Jefferson Viscardi].

          Ao substituir sua dependência individual de processos políticos irrelevantes pelo avanço tecnológico o homem de filosofia, o homem civilizado se encontraria inclinado a institucionalizar eficiência, sustentabilidade e abundância nos assuntos da humanidade como ordem do dia e necessidades básicas. A coerência nas práticas científicas entre a necessidade e o recurso mais apropriado é estabelecida pela natureza, portanto, está acima de qualquer opinião humana. Nosso objetivo como indivíduos é o mesmo como espécie: viver o máximo possível, com a melhor qualidade de relações entre si e com tudo e todos. Evitar a dor e prolongarmos a satisfação encontrada no serviço ao próximo e o crescimento pessoal respeitando o planeta.
           Quando buscamos teorizar e praticar nossa razão da forma mais abrangente possível, temos o que podemos chamar de generalismo. Ou seja, temos que conceituar a relação do animal humano entre os indivíduos de sua espécie e no modo como ela se relaciona com seu meio. Ao que poderiamos chamar também de uma teoria da unicidade. Ora, se todas as células sociais estão inter-relacionadas, qualquer sintoma de doença só pode ter uma única causa: o todo está doente.
          A culpa recai no organismo maior, a humanidade. Se sabemos e compreendemos de forma generalista, entendemos que os únicos culpados somos nós mesmos. Trata-se da ferramenta que permite o diagnóstico desta esquizofrenia social que sofremos. Uma vez que esta tecnologia científica está à disposição, podemos assumir a doença que sofremos. O tratamento para a cura é aquilo que chamamos de processo de transição. A cura, por assim dizer, é a civilização em si. Eficiência, sustentabilidade e abundância.
          [2]
          Como Carl Sagan (1997. p. 28.) afirmou:

         Nós organizamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais - o transporte, comunicações e todas as outras indústrias: agricultura, medicina, educação, entretenimento, proteção do ambiente, e até mesmo o elemento-chave da instituição democrática do voto - dependem profundamente da ciência e da tecnologia. Também organizamos as coisas de um modo que quase ninguém entende ciência e tecnologia. Esta é uma receita para o desastre. Podemos conviver com isso por um tempo, mas cedo ou tarde essa mistura inflamável de ignorância e poder vai explodir na nossa cara.

          Sagan2 afirma que após uma análise das suposições de uma nova ideia ela deve permanecer plausível, e então ser reconhecida como uma suposição. O pensamento cético é uma maneira de construir, entender, racionalizar e reconhecer argumentos válidos e inválidos, e prová-los de maneira independente. Ele acreditava que a razão e a lógica devem prevalecer a favor da verdade. Através desses conceitos, os benefícios do pensamento crítico e a natureza "auto-corretiva" da ciência emergiriam. É o que mais nos falta hoje.
          É preciso tornar-se ciente do todo e do potencial existente em unir esforços já que todos temos o mesmo propósito. o estado de civilização, assim como o processo de transição, é diretamente dependente do quanto ampliamos a consciência de nossa espécie acerca dos problemas que enfrentamos, dos sintomas que sofremos, do método científico como uma forma universal de resolvermos nossas vidas, e de que somos todos interdependentes como espécie e aos processos da natureza. Temos que encarar os indivíduos como aquilo o que eles realmente são: células sociais de um só organismo. Somos todos miseráveis, quando comparado ao que já poderíamos fazer no estado de civilização.

Sócrates — [...] De fato, devemos sempre afirmar que o útil é belo e que só o nocivo é vergonhoso.
Glauco — Tens toda a razão.
(PLATÃO. A República. Livro V, p. 158).


          A doação, juntamente com uma disseminação de educação relevante, progressivamente diminui a importância dada pelo dinheiro. Falamos inicialmente do despertar da consciência na sociedade global que desenganada com o caos que se fez vítima anseia uma solução, e termina por auxiliar uns aos outros progressivamente. Diminui os gastos desnecessários evitando desperdícios, compartilha seus recursos e doa sua habilidade. Boicota toda forma de irrelevância. Caridade e solidariedade são sentimentos que já se fazem presentes nos atos e negociações e uma ética interna generalizada direciona nossas ações até alcançar a massa crítica que cuidará do restante.
          Na busca por uma situação mais confortável ela naturalmente gravitará para as organizações sérias de histórico coerente com a direção que pretender dar para a espaçonave Terra que pilotam diariamente, já não mais inconscientes a esta altura. Encontraremos assim o Projeto Venus, que nos cabe citar, mesmo que de maneira breve por sua pertinência ao nosso assunto.

Concretizando a proposta

O Projeto Vênus é uma proposta social de toda uma vida de estudos do cientista Jacque Fresco. Propõe entender as causas das falhas da sociedade, em prover uma vida integralmente plena a todos, e superar isto com uma metodologia coerente com a atual capacidade de gerenciamento de recursos.
          Para resumir o estado de nossa sociedade ao alcançar por merecimento o adjetivo de civilizada destaco alguns deles, (ensinados verbalmente pelo senhor Jacque Fresco em vários locais públicos que não se encontram documentados), listo os mais evidentes:

1) Recursos são de todos. 2) Foco bem-estar e crescimento humano. 3) Países são culturas diferentes mas uma só nação. 4) Todo problema verdadeiro é problema geral. 5) Senso de propriedade torna-se obsoleto. 6) Não há necessidades inventadas. 7) Não há trocas em uma sociedade baseada em recursos, tudo é de todos. 8) Não há hierarquia entre os recursos. (Se algo fica escasso aprende-se usar outro material para o mesmo fim). 9) A mecanização torna o trabalho humano para produzir bens desnecessários logo tudo é gratuito. 10) O homem é livre para desenvolver o seu talento e trabalhar no que gosta quando se sentir inspirado. 11) Prejudicar a abundância não faz sentido se todos tem tudo. 12) Sem a necessidade de empregos, não há limites para a automação. 13) Dominação da medicina preventiva. 14) Educação de ponta e igualmente relevante a todos é constante. 15) Monitoramento planetário dos recursos. 16) Capacidade de carga do planeta é respeitada naturalmente. 17) Problemas são antecipados: ex. Catástrofes. 18) Cidades são circulares pela praticidade. 19) O fim do desperdício. 20) Noção de utilidade é a diretriz prioritária de qualquer projeto. 21) Vida útil prolongada de tudo, ao máximo. 22) Compatibilidade universal (inter-cultural). 23) Auto-correção, auto-higienização e auto-manutenção. 24) Mecanismos de autoreciclagem total embutido. 25) Recursos escolhidos: os mais eficientes. 26) Transporte gigantes, feitos em partes montáveis miniaturizadas. 27) Tempo: é recurso a ser poupado. 28) Não existe ameaça de escassez: roubo, usura alheia, qualquer prejuízo. 29) Sistemático uso de computadores torna-se óbvio. 30) Desenho e textos todos corrigidos e melhorados automaticamente. 31) Não há debates de opiniões, votos, eleições, leis, congressos, disputas por recursos, orçamentos financeiros, hierarquias, ofensas pessoais, corrupção, fraude, guerra, torturas, espionagens, patentes, exploração subumana, roubo, egocentrismo, inveja, preconceitos, e outras perdas de tempo. Há apenas o método científico aplicado aos problemas sociais com o auxílio sistematizado dos processadores da computação conectados mundialmente aos processos econômicos baseados em recursos. Tudo à disposição de todos os terráqueos. 32) Toda doença é um desafio mundial a ser sanado matematicamente. 33) Não há punições apenas cooperações mutuas. 34) Moradias, expressões diretas da subjetividade de seus ocupantes. 35) Transporte a prova de impacto e para todos. 36) Alimentação abundante, culinária específica em qualquer lugar. 37) Vida sem horários definidos cidade não atormenta horários individuais. 38) Hortas verticais, prédios herméticos. 39) As qualificações: faxineiro, mecânico, operador de caixa, empacotador, motorista, manobrista, vigilante, segurança, policial, lixeiro, gari, carteiro, entregador, pedreiro, carpinteiro, pintos, bombeiro, operador de máquinas em geral, cozinheiro, garçom, jardineiro, secretário, recepcionista, auxiliar de escritório, estagiário, estoquista, vendedor, operador de telemarketing, atendente de comércio, gerente, diretor, proprietário e muitas outras deixarão de existir.

          Em outras palavras: é uma organização que promove as visões do futuro de Jacque Fresco através de um web site e pela distribuição de vídeos e literatura. Tem como objetivo melhorar a sociedade pela construção cidades sustentáveis, a utilização de energia de forma eficiente e a gestão dos recursos naturais da Terra usando automação avançada, focando nos benefícios à sociedade e de nosso planeta. Antes porém de que qualquer movimento de redefinição de nossa sociedade aconteça no mundo material, é preciso que o ser humano reconheça através da conscientização individual que somos todos células de um mesmo corpo e que se não agirmos em unidade de nada adianta nosso avanço pois continuaremos a destruir uns aos outros indefinidamente até que a morte nos separe.  
          Desde fins da Idade Média, a Filosofia Política e os pensadores tratam das mais variadas questões sobre a legitimação e a justificação do Estado e do governo:  os limites e a organização do Estado frente ao indivíduo, as relações gerais entre sociedade, Estado e moral; as relações entre a economia e política; o poder como constituidor do "indivíduo"; as questões sobre a liberdade; as questões sobre justiça e Direito e as indagações sobre participação e deliberação; das questões sobre a contingência, liberdade e solidariedade na acepção do declínio da verdade redentora e ascensão da cultura literária, etc., como mencionei anteriormente, e entre opiniões, erros e acertos, não somente os melhores caminhos descobertos foram ofuscados pelo interesse no lucro de quem pôde mais nas diversas épocas da nossa história no campo científico mas no filosófico também. É como se fora do interesse não houvesse salvação ou melhor, evolução de uma teoria que fosse bela, justa e imparcial.

Sócrates — Depois de termos compreendido tudo isto, diz me: é possível que a turba admita e conceba que o belo em si mesmo existe, uno e distinto da multidão das coisas belas e que a essência das coisas é simples, uma e indivisível?
Adimanto — De forma alguma.
Sócrates — Por conseguinte, é impossível que o povo seja filósofo.
Adimanto — Impossível.
(PLATÃO. A República. Livro VI, p. 282).

          Além das limitações relativas as impossibilidades quanto a termos uma multidão predisposta a conceber o belo e a praticidade factual que poderá nos proporcionar uma união e investimento das ciências com fins comuns, não deveria haver motivos para se produzir e consumir produtos ineficientes, irrelevantes para o avanço, obsoletos ou mesmo inúteis.
          Há sem dúvida muitos indivíduos que se interessam pela filosofia, pelo amor ao conhecimento, que são amigos da sabedoria. Como não podemos depender da multidão pois é medíocre (pela natureza própria do ambiente cultural), podemos ficar certos que o remédio é assumir a responsabilidade individual de produzir o máximo que pudermos com as ferramentas que fomos lapidando para nós mesmos no campo do entendimento mais amplo da realidade, para aplicar nos nossos relacionamentos conhecendo bem as motivações que giram as rodas da fortuna ambiciosa na busca de cauterizar esta e outras feridas que tanto doem no corpo social de nossa humanidade.

Conclusão

           Concluímos que vivemos muito abaixo de nosso potencial por não reconhecer o erro de querer continuar perpetuando um sistema que já não comporta a civilização que nos tornamos. Tudo é passível de modificações e reformulações que adequem o que é produção com as habilidades e necessidades de quem tem capacidade de criar (a raça humana) transformando pelo ato inteligente o ambiente a sua volta. É irracional tomar por saudável práticas que destroem as possibilidades de toda uma raça de viver em harmonia com o meio ambiente e entre suas nações.
          A política há muito se tornou obsoleta já que seus propósitos se transviaram e seus clientes poderosos a deturparam. Um condicionamento voltado para a exortação dos prazeres imediatistas, do entretenimento exagerado somado a uma educação relevante tornou paternalista, quasi-facista os governos do mundo, sobretudo os que conduzem as chamadas superpotências por razões óbvias. Nossa ciência ao se ocupar de ouvir mais o patrocinador que suas reais capacidades, brinca de alavancar o progresso e seus artífices se contentam em viver uma vida às sombras de seus respectivos potenciais. Esta emancipação que nos cabe só poderá ocorrer a custa da reformulação das práticas de mercado de oferta e procura já ultrapassadas (que seguem o padrão da obsolescência planejada), e quando estas práticas aberrantes forem substituídas por uma ética interna de respeito às conquistas mais recentes da moral e do intelecto humano.

Sócrates — Enquanto os filósofos não forem reis nas cidades, ou aqueles que hoje denominamos reis e soberanos não forem verdadeira e seriamente filósofos, enquanto o poder político e a filosofia não convergirem num mesmo indivíduo, enquanto os muitos caracteres que atualmente perseguem um ou outro destes objetivos de modo exclusivo não forem impedidos de agir assim, não terão fim, meu caro Glauco, os males das cidades, nem, conforme julgo, os do gênero humano, e jamais a cidade que nós descrevemos será edificada. Eis o que eu hesitava há muito em dizer, prevendo quanto estas palavras chocariam o senso comum. De fato, é difícil conceber que não haja felicidade possível de outra maneira, para o Estado e para os cidadãos.
(PLATÃO. A República. Livro V, p. 179-180).

          Uma economia baseada em recursos é o destino da organização sociopolítica contemporânea pois que contemplará o homem em sua prosperidade como ser digno de viver conforme a constante mudança e progresso que lhes são característicos adquirindo cada vez mais maior conhecimento pelo amor à sabedoria e respeito pelas riquezas existentes na prática da cooperação e amizade. Um planeta pacífico que contempla as diferenças de suas nações e exalte suas respectivas capacidades e habilidades individuais, incentivando-as será certamente o ponto de chegada onde um recomeço nos aguarda para que seja, finalmente, escrita a história que nossos antepassados apenas entreviam nas suas palestras e seus discursos filosóficos.
  


Referências:

FRESCO, Jacque. The Best that maney can't buy. 1a. ed. Trad Jefferson Viscardi. Florida: Global Cyber Visions, 2002.

FULLER Buckminster. Operating manual for Spaceship Earth. 1a. ed. trad. Jefferson Viscardi. London: Lars Müller Publishers, 2008.

PLATÃO. A República. trad. e notas Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997.

SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios - ciência vista com uma vela no escuro. trad. Jefferson Viscardi. São Paulo: Companhia de Bolso,1997.

MESZÁROS, Istvan. Beyond Capital. Londres e Nova Iorque: Merlin Press, 1995.

BRUNO, Giordano. De l’infinito universo e mondi. 1a. ed., eletronica, Italia: E-text (editora), 2006.

GATTI, Rafael. Estratégia do Desperdício. Disponível em: <http://www.designemartigos.com.br/resenha/estrategia-do-desperdicio-vance-packard/#ixzz2DBRqQzut> Acessado em: 24 Nov 2011.

PACKARD, Vance. The Waste Makers. United States: Ig Publishing, 2011.



[1] Jefferson Batista Viscardi é acadêmico do curso de Bacharel em Filosofia da Unisul Virtual. 

2 Sagan fornece uma análise cética de vários tipos de superstições, fraudes, pseudociências, e de crenças em deuses, bruxas, OVNIs, percepção extra-sensorial e cura pela fé.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012


Quote November, 16th 2012 - English Version

"You never know when that one synchronicity will take you by the hand and change you life! Be deserving and be ready to live behind the old version of you." Quote Jefferson Viscardi

Frase 16 de novembro de 2012 - Portuguese Version

"Você nunca sabe quando que a sincronicidade um vai levá-lo pela mão e mudar sua vida! Seja merecedor e esteja pronto a abandonar a roupa que não lhe cabe mais." Citação Jefferson Viscardi

Frase 16 de noviembre 2012 - Spanish Version

"Uno nunca sabe cuando una sincronicidad le llevará de la mano y cambiará su vida: sé digno y esté dispuesto a dejar la ropa que ya no le sirve más." Citar Viscardirson Jefferson Viscardi


Art source/fonte da arte: aqui / right here 

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Ishuwa and his civilization, the Yahyel, are human ETs or star-beings.
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